Vida intelectual

Olavo de Carvalho

Nunca, como hoje, a vida intelectual impôs, àqueles que a praticam, a necessidade de uma ascese, de uma austeridade material e moral. Porque é pelas nossas esperanças terrenas, por mais justas que sejam em si mesmas, que o mundo de simulacros adquire, sobre nós, credibilidade e poder. Para escapar à sua sedução, às vezes é melhor renunciar mesmo a coisas que seriam de nosso legítimo direito, mas cujo desejo, em tais condições, arriscaria colocar-nos à mercê de nosso pior inimigo. Não que o homem de espírito nada possa ter sobre a Terra, não que ele não possa agir, e agir com poder e eficiência, muito maior mesmo, em seu aparente isolamento e fragilidade, que a dos escravos do poder mundano. Ao contrário, podemos ter e podemos agir. Só o que não podemos é nada esperar do mundo. A verdade só serve a quem é seu escravo, e ela se…

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Aprendizado voluntário

Olavo de Carvalho

”A partir de um certo momento na vida só existe o aprendizado voluntário. Reparem que o aprendizado de uma criança não é voluntário, é espontâneo. Na medida em que a criança cresce, ela busca novos conhecimentos como alguém que busca apenas respirar; ela tem uma curiosidade sem fim. Contudo, num dado momento, isso não é mais possível. Você somente aprenderá aquilo que for de teu real interesse. Mas por que você deve querer aprender? Essa é a pergunta. Você somente irá querer aprender se você vislumbrar algum objetivo que transcenda infinitamente os teus interesses pela sobrevivência imediata. Você não sabe exatamente o que é esse objetivo, mas você o vislumbra. E isso é o que nós podemos chamar de imagem paradisíaca. Se não existe uma imagem apocalíptica, o fim do mundo!, e de uma outra vida que transcenda tudo aquilo que nós conhecemos, se não existem imagens do paraíso, da…

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Sola Scriptura

Olavo de Carvalho

Vamos deixar de bobagem. ‘Sola Scriptura’ é uma estupidez autocontraditória e uma impossibilidade pura e simples. Deus não inspira um texto diretamente, mas o autor do texto. Se os evangelistas tinham alguma autoridade, era como membros da Igreja e não como meros indivíduos. Logo, a autoridade das Escrituras é garantida pela Igreja e não a Igreja pelas Escrituras. Crer no oposto é acreditar que todos os atos dos apóstolos e os próprios milagres de Cristo só foram referendados pelo Espírito Santo trinta ou quarenta anos depois de praticados. Quanto mais estúpida é uma doutrina, mais seus seguidores se apegam a ela e mais se dispõem a mentir em seu favor, quando não a praticar violências para sustentá-la. Não foi à toa que a Reforma criou a mais vasta e longa campanha de assassinato de reputação já registrada na História, que já dura cinco séculos sustentada por uma infinidade de…

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Propriedade privada

Olavo de Carvalho

Quem acha que a ‘propriedade privada’ pode ser o princípio fundante de uma teoria política, baseando nela todos os demais direitos, inclusive o direito à vida, não sabe o que é um princípio, nem o que é um direito, nem muito menos o que é vida. Entre as expressões ‘propriedade do próprio corpo’ e ‘propriedade de um terreno em Vila Nocunhé’ existe um salto enorme de uma metonímia jurídica para um conceito descritivo rigoroso. O corpo só pode ser uma propriedade se supusermos por trás dele um sujeito incorpóreo que o possui e que pode existir sem ele. Neste caso as almas, independentemente dos corpos, seriam pessoas físicas titulares de direitos e poderiam comparecer incorporalmente a um tribunal para defendê-los. No mundo real, o corpo vivo não é uma propriedade, mas uma condição prévia para que alguém tenha propriedades. Basta isso para alguém entender que o direito à vida não…

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‘Teoria da conspiração’

Olavo de Carvalho

“‘Teoria da conspiração’ é um termo geralmente usado por pessoas que não sabem o que é uma teoria, nem uma conspiração, nem muito menos uma teoria da conspiração.
Por exemplo, usaram esse termo para qualificar as primeiras coisas que escrevi sobre o Foro de São Paulo, nas quais não havia teoria nenhuma, apenas uma notícia de extrema importância omitida por toda a mídia nacional, e nas quais aliás não se falava de nenhuma conspiração, que subentende segredo, e sim de reuniões públicas com atas oficias publicadas na internet. Foram os próprios luminares da mídia — aqueles que me acusavam de ‘teórico da conspiração’ — que, escondendo a notícia, transformaram em segredo o que não o era originalmente e deram ares de conspiração a um fenômeno totalmente distinto. Conspiraram para fazer isso ou foi apenas uma conjunção fortuita de inépcias, cagaços e expectativas imaginárias? Não tenho a menor idéia.”

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O direito de defesa e a Inquisição:

Olavo de Carvalho

“A Santa Inquisição, que a cultura pop do esquerdismo consagrou como o símbolo máximo da prepotência repressora, chamava-se “inquisição” precisamente porque inquiria, isto é, fazia perguntas e deixava o acusado responder. O termo “inquisitório” opunha-se a “acusatório”. No costume processual dos séculos bárbaros, a acusação reforçada por um juramento e, se preciso, sustentada em duelo, bastava como garantia legal para enviar o réu para o outro mundo. A Inquisição proibiu o método acusatório, fazendo do direito de defesa uma ‘conditio sine qua non’ para a racionalidade da prova.”

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